terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

achados e perdidos

coisa mais filosófica é uma caixinha de achados e perdidos. volta e meia vasculhamos, como a  nós mesmos, para ver se encontramos alguma coisa. às vezes sabemos o que buscamos, às vezes não, mexemos e remexemos só pra ver se achamos algo nosso. uma vez ou outra, com tímida esperança de encontrarmos não sabemos o quê, olhamos pra dentro. quase sempre saímos de mãos vazias, e com um vazio maior ainda, mesmo quando não estamos procurando nada em especial. só estamos a procurar.

a caixa de achados e perdidos foi feita pra isso, para a procura. por isso deve ser vista, mexida, vasculhada.  só que na maioria das vezes a revista é displicente. ainda sim, há momentos em que sua simples existência é motivo de alívio, pois tudo o que mais queremos é que exista ainda um lugar onde ao menos possamos procurar. onde mexer com ou sem cuidado. ela nos dá esperança de encontrarmos o que perdemos. então a procura pode ser mais insistente e demorada, pq pode ser só uma esperancinha de nada, mas existe. se achamos, é como tirar na loteria, pura sorte. mas se os segundos passam e nada aparece, daí olhamos pros achados e perdidos dos outros meio desanimados, tantos objetos estranhos a nós e nada de nosso ...e desistimos tristes, deixando aos outros que venham buscar seu esquecimento.

nos achados e perdidos encontramos memórias, pertences estranhos. e se por sorte nos achamos perdidos, nos perdemos nos achando. feita para ser procurada. feita para ser achada. feita para os perdidos de si meso. pedaços de nós andam em caixinhas por aí, a nossa espera, certamente.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Show me

Maybe we'll talk
Some other night
Right now I'll take it easy
Won't spent my time
Waiting to die
Enjoy the life I'm living

Show me that you love me
Show me that you walk with me
Hopefully, just above me
Heaven's watching over me

domingo, 20 de fevereiro de 2011

porém, a força do passado

Amor de Longo Alcance, Marina Colasanti

Durante sete anos , separados pelo destino, amaram-se a distância. Sem que um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam vielas, indagavam. Bússola de
longa busca, levavam a lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo, incessantemente, redesenhava os traços apagados pelo tempo.

Já quase nada havia em comum entre aqueles rostos e a realidade, quando enfim, num praça se encontraram. Juntos, podiam agora viver a vida com que sempre haviam sonhado.
Porém cedo descobriram que a força do seu passado amor era
insuperável.

Depois de tantos anos de afastamento, não podiam viver senão separados, apaixonadamente desejando-se. E, entre risos e lágrimas, despediram-se, indo morar em cidades distantes.  
 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Mil lágrimas de vinagre e sal



Emplastro de vinagre com sal

(Tatiana Telink - http://ondehabitaminhaalma.blogspot.com)

 
Eu era pequenininha quando resolvi cruzar uma cerca de arame farpado. Me arrastei feito uma cobra no chão de terra batida para chegar depressa do outro lado. Desde pequena eu tenho pressa. Mas calculei mal o espaço para entrar. Voltei para casa carregada pela minha irmã, aos prantos, com três sulcos de pele rasgada nas costas. Foi quando eu entrei em casa que eu vi, refletido nos olhos da minha mãe, a gravidade do ferimento. O hospital ficava longe, a viagem era por uma estrada esburacada num jipe desconfortável e naquela hora, já anoitecia. Ela não teve dúvida. Foi na cozinha e voltou com um pote fundo cheio de vinagre com sal. Olhou sério para mim e disse:

- Filha, se prepara porque vai doer.

O emplastro de vinagre com sal da minha mãe era como um santo remédio. Ardia como fogo, mas me curava toda e qualquer ferida. Nunca precisei tomar antibiótico nem antitetânico na infância. Porque nada inflamava depois daquele emplastro. Naquele dia, a dor que eu senti para me livrar da dor, era como se uma faca tivesse cortando o próprio corte do arame.

Minha mãe tinha um compromisso com a verdade a respeito de dor. Quantas vezes fui tomar vacina e a enfermeira tentando ser simpática, sorria para gente dizendo: Olha fofinha, não vai doer nada tá? Vai ser bem rapidinho. E ela enfurecida saia atropelando a mulher, para ajoelhar na minha frente e dizer: Isso não é verdade, filha. Isso é uma injeção e vai doer sim. Mas é pro seu bem, você precisa passar por isso. Depois fulminava a enfermeira com o olhar e mandava na lata: Não se mente para uma criança. Se eu lhe disser que não vai doer e depois ela sentir dor... como é que vai confiar em mim de novo?

Tenho pouquíssima tolerância à dor. Sou como a personagem de Michelle Pfeiffer em “As Bruxas de Eastwick”. Meu maior medo nessa vida é de sentir dor. E mesmo assim, já fiquei 18 horas em trabalho de parto, passei por duas cesarianas e fiz outras cirurgias ainda piores. Mas isso tudo porque sei que sempre vai existir um espécie de emplastro de vinagre com sal para me curar as feridas do corpo.

Mas e as feridas da alma? Com que tipo de emplastro a gente cura as feridas de dentro da gente? Tive um namorado que me ensinou que o coração é como um orgão perdido porque jamais se regenera. Cada amor que começa e termina, leva consigo um pedaço. Ele contou que seu coração já tinha levado três mordidas. E que eu ali, terminando nossa história, estava dando a quarta mordida. Sim, era eu que partia. Mas partia com o coração menor também, e por causa dele. 

Nesses últimos dois anos tenho pensado muito de que forma posso amenizar a dor dos machucados que tenho feito tentando atravessar as cercas da vida. Mas não conheço nenhuma espécie de emplastro para as feridas da alma. Como se faz para cicatrizar uma mágoa, se ela só existe no centro de um peito imaginário? Dizem que o tempo é o melhor remédio. Não creio. Tempo não é curativo, é substantivo. Ele pode até apaziguar um sofrimento, mas não cura, não soluciona, não restabelece a saúde de um sentimento moribundo.

Outro dia aprendi com uma amiga que a cada mil lágrimas sai um milagre. Será que é na lágrima que mora a essência do meu emplastro existencial? Será que é no pranto que se desinfetam as lesões provocadas pelo desamor, pela raiva contida, pelo ciúme doentio, pela decepção velada, pelo ressentimento corrosivo, pela amargura do desencanto? Se for, que esse líquido salgado e sagrado me lave as entranhas sem ardor. E que eu possa ter coragem de continuar me aventurando a atravessar todas as cercas de arame farpado, até as mais perigosas e enferrujadas. Porque de chorar… bom… de chorar eu não tenho medo não.

Para Gleice, que me ensinou o que é milágrima. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"tivemos uma história bonita" .

saudade da saudade (alice ruiz - http://aliceruiz.com.br/)

minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vinda
só é possível
noutra vida

aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz

ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento

aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim
 
 .....................

saudade de sentir saudade é uma coisa estranha. mas é isso às vezes. uma saudade que se despede. resisto ir embora, mas agora entendo um pouco mais, ou desentendo, é que não sentir aquela saudade de antigamente, aquela cheia de drama e de emoção, é como fica no vazio. pq talvez pior que perder alguém, um amor, é não sentir saudade desse amor.  minha saudade é estranha, deformada. o poema de alice ruiz é perfeito, pq fala sobre um ponto que só lendo seu poema me dei conta que existe...essa coisa estranha que sinto não é saudade, mas a despedida dela. e resito. como assim, viver sem saudade? posso dizer que sinto muita falta, e mais um milhão de coisas esquisitas, mas saudade que é bom..não, essa tá indo embora também. tenho lembranças e fico triste, mas não saudosa.

minha saudade saúda tua ida, e da boléia me acena um adeus. fica a frase de caminhão "tivemos uma história bonita" como testemunha do que um dia não tivemos palavras para descrever. e nem precisávamos, pois a saudade apertava mesmo era quando estávamos juntos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

eu vou voar

 
Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho
Na palma da minha mão
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando
Quero paz no coração
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando
Na palma da minha mão
Na palma da minha mão tem os dedos tem as linhas
Que olhar cigano caminha procurando alcançar
A nau perdida, o trem que chega, a nova dança
Mata verde esperança, em suas tranças vou voar
Passarin...in...nho eu vou voar
Quero paz no coração
 
Meu alegre coração é triste como um camelo
É frágil que nem brinquedo, é forte como um leão
É todo zelo, é todo amor, é desmantelo

É querubim, é cão de fogo, é Jesus Cristo, é Lampião
Passarin...in...nho eu vou voar
Passarin...in...nho eu vou voar
Passarin...in...nho eu vou voar






quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

por isso eu canto a morte

Cantar
Desnudar-se diante da vida
... 

No cantar a lembrança se cria
E envelhece de repente
Vai solta no ar
Por isso eu canto ...

(cantar - tereza cristina)

Aceito. Reparo os acontecimentos com a frieza de quem já não quer mais tristeza, de quem deixa um amor partir. E canto. Não desejo a presença, não desejo o sorriso nem a fala. Só desejo. Desejo só. Saudade que perdeu o direito de ser lembrada em voz alta. Por ambos. Guarda-se a saudade, a fala, só há espaço, cavado na distância, pra um ligeiro abraço. Partes com partes de mim. Parto-me no parto de expulsar em demoradas contrações o rebento já em gestação: novo momento de vida, de mim. Nutro de experiência o luto que se transforma dia a dia em vida nova. Em fim.

Grito meu, forte como raio, delicado como orvalho, vai e diz pra Ele: ACABOU! Luz divina, ilumina o meu caminho ainda mais, nesse dia de Yemanjá. Repete comigo em ondas incansáveis, o amor acabou, acabou, acabou, acabou. Nas águas e no vento, no fogo, na terra, meu corpo se espalha!!! Estou livre! Amor de amarras, amor morto, vive em mim. Se olho pra trás e o campo é apenas cinza, estou feliz. Não quero esperança vazia dos eucaliptos tristes, quero a esperança da terra em pousio, do solo queimado que abre-se pra vida! A morte de um amor vive em mim. Que assim seja.